segunda-feira, 29 de março de 2010

Homenagem do meu ex-aluno(Maycon Montenegro)hoje acadêmico de Direito para mim e todas as outras mulheres que fizeram parte de sua vida.


Entre Helenas e Madalenas

Era uma vez 129 mulheres dentro de uma fábrica em Nova Iorque onde organizaram uma greve por melhores condições de trabalho e contra a jornada de doze horas. Conta-se que, ao serem reprimidas pela polícia, as trabalhadoras refugiaram-se dentro desta. Naquele momento, de forma brutal e vil, os patrões e a polícia trancaram as portas e atearam fogo, matando todas carbonizadas.
Esse foi o fato que deu origem ao dia internacional das mulheres. A data era 8 de março de 1857; mas bem podia ser de 1914 ou (quem sabe?) de 1917 ou de 2000 ou de 2006. Tantas datas, tantos lugares e tanta história poderiam revelar o caráter, no mínimo, instigante da seqüência de fatos que permeiam a trajetória do dia que poderíamos utilizar para congratular as mulheres...
Mas falar sobre o dia que se tornara internacionalmente conhecido como o dia das mulheres, não é o foco do que por ora venho protestar. O fato é que se todas as mulheres, que um dia chegaram a fazer parte da história, tivessem a oportunidade de serem reconhecidas, creio que não haveria espaços nos livros de história... Entretanto, por que isso não acontece? Por que as mulheres não são mencionadas com tanta freqüência em sua própria história? Isso talvez se dê pelo fato de a única civilização matriarcal que poderia ter prosperado (a de Creta) ter sido destruída e sua cultura praticamente extinta.
Um paradoxo verossimilmente estarrecedor é a vida sofrida e humilhante pela qual as mulheres gregas passaram. Enquanto os homens, orgulho e raça de suas cidades guerreavam ao longe, as mulheres se viam abandonadas e obrigadas a defenderem seus lares de bando de ladrões. As pequenas Helenas, que ao saberem da morte de seus maridos, não choravam nem faziam teatro, recolhiam-se em seus pequenos cantos. Entretanto, as mais guerreiras, eram as que ainda davam suas carícias aos seus maridos bêbados, quando estes voltavam arrasados após as várias e várias noites com meretrizes.
Apesar desse histórico lamentável, nem todas as mulheres se submeteram às vontades dos homens que se auto-classificavam como sexo forte, ficando para a mulher o título de sexo frágil. Já dizia Napoleão Bonaparte: “Não me rendo perante nenhum exército, mas fraquejo ante minha amada Josefina”.
O homem se julga sábio e se vangloria por dizer que usa da razão, enquanto as mulheres apenas que choram. Porém, enquanto a razão convence, as lágrimas arrastam exércitos, pois comovem. As mulheres são puras, quase que santificadas. Para elas ficam os martírios, as dores, lágrimas e amores. Para elas sobrou o peso de todas as Madalenas... Para os homens sobrou Judas. As Madalenas se arrependem e morrem ao lado da salvação, enquanto os Judas traem seus mestres e acabam que por tirando a própria vida.
Helenas e Madalenas, ambas carregam uma cruz igual. Igualmente espancadas e maltratadas por aqueles que receberam a vida de outras Helenas e Madalenas. Igualmente rejeitadas e esquecidas pela sociedade que hoje existe graças ao amor de uma mulher para com o seu “senhor”. Igualmente acusadas e marginalizadas por uma instituição que afirma que a origem do nosso sofrimento veio do pecado de uma só mulher, que teve a coragem de compartilhar com seu amado o conhecimento. Igualmente superiores e promissoras, pois sem ao menos se vangloriar conseguem despertar nos homens um complexo de inferioridade que acaba os levando a cometerem suas atitudes insanas para simplesmente desejarem ficar na camada superior.
Seria pedir muito? Desejar uma igualdade menos utópica? Não sei. Não sei o que se pode desejar quando por hora não se pode proclamar.
O que posso fazer é mudar o “Era uma vez...” que encetou essa história: Era uma vez as “Marias Betânias” para as quais eu deixo a inspiração; as “Tarsila do Amaral” as quais eu deixo o dom da arte; as “Mulheres Maravilhas” as quais deixo a justiça; as “Simones de Beauvoir” para as quais deixo a liberdade sexual; as “Celinas Guimarães” deixo a democracia; as “Hildegaards” as quais deixo o máximo de filosofia; as “Clarices Lispector” as quais deixo a poesia; as “Mona Lisas” as quais deixo um bom Leonardo da Vinci; as “Sofias” as quais deixo o seu mundo.
E a este mundo não posso deixar nada, apenas uma esperança. A esperança de que um dia não haverão mais Helenas ou Madalenas, mulheres apenas...